domingo, 29 de maio de 2016

Sophia de Mello Breyner

      Na minha opinião, Sophia de Mello Breyner Andresen é uma das mais completas poetas portuguesas, pois não só consegue retratar na sua poesia paisagens ou figuras, como representa também, e acima de tudo, emoções.
      Um dos aspetos que considero mais relevantes na poesia de Sophia, consiste na representação única do seu desagrado pela cidade e a sua preferência pela natureza em muitos dos seus poemas. Um exemplo desta mesma oposição surge no poema "A Cidade", em que a poeta se refere ao meio urbano como um símbolo de corrupção, rico em desgraças, pobreza e poluição e, em oposição, à praia e ao campo em variadíssimos poemas. Ao contrário da cidade, o meio rural é apresentado como um lugar de paz e sossego, um lugar puro.
      Outro aspeto que considero importante na poética de Sophia de Mello Breyner Andresen é o facto da poeta conseguir retratar a figura humana de uma forma singular, abstraindo-se de tudo o que a rodeia e focando-se apenas naquele ser, como podemos observar no poema "O Homem".
      Concluindo, considero que os dois aspetos mais importantes na poesia de Sophia de Mello Breyner são a representação da oposição entre a cidade e a natureza, uma vez que me identifico com este ponto de vista acerca da confusão do quotidiano e da pureza do campo e da praia; e a importância que a poeta atribui ao ser humano, focando-se apenas nele e ignorando toda a agitação ao seu redor.

O Doido e a Morte

      Tendo em conta a minha experiência de leitura da obra O Doido e a Morte, considero que, ao longo da peça, surgem diversos momentos que contribuem, em muito, para o desenrolar da ação. Porém, penso que os dois momentos mais relevantes não são quando surge o conflito propriamente dito, isto é, a aparição do Sr. Milhões com a caixa, nem mesmo quando o Governador Civil se apercebe de que a caixa continha apenas algodão em rama, mas sim quando, num momento de pânico, Baltazar Moscoso recebe a visita da sua esposa e quando o Sr. Milhões se compara com ele.
      Ora, quanto à visita de Aninhas, considero este momento extremamente importante no desenrolar da ação da peça, pois contribui de uma forma singular para a perceção do Governador Civil de que, na verdade, não é tão importante e poderoso como julgava ser. Assim, perante a indiferença de Aninhas, este interioriza que talvez esteja, efetivamente, destinado ao fracasso, sendo esta mesma indiferença considerada como um indício do que lhe iria acontecer.
      Por outro lado, reconheço ainda que o discurso do Sr, Milhões também contribui para o desenrolar da ação, pois vem convencer, cada vez mais, Baltazar Moscoso, ao confrontá-lo com o facto de ambos serem semelhantes e de que, segundo os ideais excessivamente racionais do Sr. Milhões, devem falecer.
      Concluindo, penso que estes dois momentos representam uma forte importância no desenrolar da ação pois alteram, grandiosamente, a visão do Governador Civil, levando-o a confessar todas as suas mentiras.

sábado, 19 de março de 2016

Aparição

     Cristina, filha mais nova do Dr. Moura e, portanto, irmã de Ana e de Sofia, é uma menina loira, de sete anos, que devido à sua tenra idade, ainda não questiona a vida, revelando, com a música que tocava ao piano ("Nocturno 20" de Chopin), um mundo maravilhoso de harmonia.
     A sua música tem, para o narrador, o dom da revelação, considerando esta uma uma aparição maravilhosa.
     No entanto, Cristina vem a falecer tragicamente ao regressar de Redondo. Mas a sua imagem, a sua música e o silêncio da sua morte representará para sempre uma amargura presente na memória de Alberto, e possibilitá-lo-á a exaltação integral da condição humana. ("Ter a evidência ácida do milagre do que sou, de como infinitamente é necessário que eu esteja vivo, e ver depois, em fulgor, que tenho de morrer").
     Cristina, dotada de grande pureza, representa algo que transcende a feição humana, parecendo não pertencer ao mundo terreno.

terça-feira, 15 de março de 2016

Carlos da Maia

Carlos da Maia, filho de Pedro da Maia e Maria Monforte é quanto ao relevo, personagem principal da obra "Os Maias". Podemos também afirmar que é uma personagem modelada uma vez que vai alterando o seu comportamento, devido ao seu conflito interior, ao longo da ação.
    Após o suicídio de seu pai- Pedro da Maia e devido à fuga de sua mãe Maria Monforte, Carlos passa a viver com o avô, Afonso da Maia, que o educará de uma forma rígida, severa e à moderna, uma educação à inglesa, com o intuito de que o seu neto seja em tudo oposto ao seu filho Pedro Maia.
    Afonso da Maia tem a intenção de tornar Carlos um jovem útil à sua nação e ao seu semelhante, com a profissão de médico que este acaba por exercer, no entanto rapidamente se deixa envolver pelo ambiente demasiado, rude, fácil, atraente da sociedade cosmopolita de Lisboa. Repleto de boas intenções e de projetos e ideias,Carlos vai adiando indefinidamente os seus projetos, como a escrita de uma revista cientifica, o livro de Medicina Antiga e Moderna, o que levará ao fracasso das suas capacidades e motivações.
    Fisicamente, um homem atraente e sedutor, Carlos é: "bem feito, de ombros largos, com testa de mármore sob os anéis dos cabelos pretos, de olhos negros" ( pagina 96/ capitulo IV ), facilmente se envolve em encontros e aventuras amorosas ( como o caso com a condessa de Gouvarinho), até ao momento em que descobre o seu verdadeiro amor Maria Eduarda. Torna-se, então, sincero e verdadeiro e pretende lutar por este amor, que sabe proibido pelo seu avô, uma vez que Maria Eduarda tem esposo, Um tal de Castro Gomes, o brasileiro, e uma filha Rosa. Mais tarde Carlos irá saber que Castro Gomes não é esposo de Maria Eduarda e que Rosa não é sua filha. 
    Assim Carlos ultrapassando o preconceito do avô, vive com Maria Eduarda uma relação incestuosa, primeiramente de forma inconsciente pois desconhece a verdadeira identidade de Maria Eduarda, sofrendo um conflito de a deixar, de a abandonar, quando a sabe sua irmã. Encarrega João da Ega de esclarecer Maria e de lhe entregar parte da herança a que tem direito por nascença .
    O lusco, os cavalos, o bric-a-brac, a atração pela Condessa de Gouvarinho e tantas outras... provam que afinal Carlos é um diletante, romântico sensual, que sucumbe aos prazeres momentâneos, sem força ou vontade, para lhes sobrepor o seu trabalho e ser útil ao país.
    Carlos da maia outrora, um jovem culto, bem educado, corajoso, devido à sua educação à inglesa, como é possível ter fracassado na vida ?
    Tornou-se um anti-herói, em parte devido ao meio onde se instalou uma sociedade parasita, fútil, demasiado atrativa para um jovem aristocrata.
    Após a morte do avô e regressado a Lisboa, dez anos mais tarde, continua o seu estilo de vida fútil que é indicativo de toda a frustração e nulidade de sua vida.
    Esta personagem é um anti-herói do romance, pela sua hereditariedade naturalista,visto que herdara de seu pai, a fraqueza, o comodismo e o sentimentalismo.
   Carlos é o protótipo de toda uma geração de jovens que fracassou. De jovens endinheirados, motivados para retirar Portugal da estagnação, foram incapazes de o fazer, representam os vencidos da Vida personificando a impossibilidade de portugal sair da crise e ganhar outra vez credibilidade perdida no estrangeiro.   

domingo, 13 de março de 2016

Café Martinho da Arcada

Localizado no Terreiro do Paço, por baixo da arcada nordeste da praça da capital, a história do bicentenário Café Martinho da Arcada inicia-se em 1778 numa modesta loja de bebidas.
Em 1778, funcionava já por baixo da arcada do Terreiro do Paço uma modesta loja de bebidas e de gelo que, a 7 de janeiro de 1782, seria inaugurada oficialmente como botequim. Na Lisboa do séc. XVIII, onde eram comuns as tabernas mal frequentadas e de mau nome, o aparecimento de um novo botequim é um acontecimento importante. Entre os habituais clientes do estabelecimento destacam-se, entre convidados de honra, altos representantes da corte de D. Maria I, alguns burgueses endinheirados e, o mais célebre, Fernando Pessoa. Com o dealbar do novo século, os botequins setecentistas tendem a desaparecer e o hábito do café, tal como na Europa, começa também a expandir-se.
Um ano depois, o neveiro-mor (fabricante de gelo) da Casa Real e fundador do estabelecimento arrendá-lo-ia ao italiano Domenico Mignani, que o rebatizaria de Casa de Café Italiana. Suceder-se-iam várias gerências e denominações – Café do Comércio, Café dos Jacobinos, Café da Neve, Café da Arcada do Terreiro do Paço – até à adoção, em 1829, de Café Martinho. A ideia pertenceu a Martinho Bartolomeu Rodrigues, neto do proprietário original, que, para distinguir o local de outro que adquirira no Largo de Camões, optaria 16 anos depois por Café Martinho da Arcada.
               Fernando Pessoa, incontestavelmente um dos maiores poetas do séc. XX, escreveu, como se sabe, uma boa parte dos seus poemas à mesa do Martinho da Arcada. De todos os cafés que frequentou, o Martinho foi (sobretudo nos últimos dez anos da sua vida) como que uma segunda casa. Utilizava-o como um escritório de fim de tarde, onde escrevia, e se encontrava com os amigos mais íntimos. Após a morte de sua mãe, os últimos anos do poeta são particularmente difíceis, muito só, atormentado e já com uma saúde precária, Fernando Pessoa, numa quarta-feira de Outono (27 de Novembro) toma, com Almada Negreiros, o ultimo café no Martinho da Arcada. Dois dias mais tarde é internado no Hospital de S. Luís dos Franceses, em Lisboa, onde morre aos 47 anos no dia 30 de Novembro de 1935.

A generosidade dos poemas que integram “Mensagem” e muitas páginas do “Livro do Desassossego” ali nasceram e, ainda hoje, quase oito décadas depois, são ainda a razão do sucesso deste estabelecimento. 

Amadeo de Souza Cardoso


Amadeo de Souza-Cardoso, nascido a 14 de novembro de 1887, em Amarante, é considerado o pintor mais representativo do modernismo português do princípio do século XX.
Filho de Emília Cândida Ferreira Cardoso e José Emygdio de Sousa Cardoso, membros de uma poderosa família da burguesia rural, Amadeo cresceu num ambiente de privilégio e beneficiou de uma educação de nível elevado. Já em 1905, entra no curso preparatório de desenho Academia Real de Belas-Artes, em Lisboa, tendo partido em novembro desse ano para Paris, onde se instala no bairro de Montparnasse, famoso pelo seu ambiente boémio e pela sua concentração de artistas e intelectuais e vem então a realizar a sua primeira exposição no seu atelier parisiense, juntamente com o pintor italiano Modigliani, de quem se tornara amigo. Também estabeleceu laços de amizade com Robert Delaunay, Juan Gris e Max Jacob, entre outros. 
Em 1913, após publicar o álbum XX Dessins, em Berlim, e ilustrar o manuscrito de La legende, de Flaubert, é selecionado para participar na exposição que o levaria a conhecer o modernismo europeu aos Estados Unidos. No ano seguinte regressa a Portugal e à sua terra natal. No nosso país, Amadeo é incompreendido nas novas tendências de arte que representa- o expressionismo, o cubismo, o futurismo, o abstracionismo-, com exposições individuais mal recebidas no Porto e em Lisboa, sobretudo pelo choque que causaram na tradicional sociedade lusa. Entretanto, durante uma estadia na capital, estabelece amizade com Almada Negreiros e o grupo Orpheu.
No período final da sua vida seria afligido por uma doença de pele que lhe desfigura o rosto e o impede de trabalhar com as mãos. Debilitado, abandona Manhufe rumo à cidade costeira de Espinho para evitar a epidemia de Gripe Espanhola. Porém, vem a falecer a 25 de outubro de 1918, em Espinho, vítima da febre pneumónica.

quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

                                              Estive sempre sentado nesta pedra
escutando, por assim dizer, o silêncio.
Ou no lago cair um fiozinho de água.
O lago é o tanque daquela idade
em que não tinha o coração
magoado. (Porque o amor, perdoa dizê-lo,
dói tanto! Todo o amor. Até o nosso,
tão feito de privação.) Estou onde
sempre estive: à beira de ser água.
Envelhecendo no rumor da bica
por onde corre apenas o silêncio.

      Para terminar o 1º período deste ano letivo, foi-me pedido que comentasse um poema apresentado, previamente, por um colega. O poema que escolhi comentar foi À beira de água, de Eugénio de Andrade.
      Na minha opinião, apesar de simples, este poema dispõe de uma mensagem fortíssima pois, para além de tratar o tão célebre tema de grande parte da poesia portuguesa, e até mesmo mundial, o amor, transmite também diversas outras mensagens, como o envelhecimento, que poucos poetas retratam nas suas obras.
      Assim, considero este poema bastante belo pois retrata de uma forma única muitas das emoções que acompanham toda a sociedade.